Shot Caller – Sobreviver a todo o custo
Nikolaj Coster-Waldau. Nos anos 80, com um nome destes, provavelmente teria de o mudar para Nicolas Cage se quisesse ser estrela de cinema. Mas não. O dinamarquês para além de ter chegado ao estrelato sem ter de dar pontapés na bola como o Mielcarsky, ponta de lança do Porto, a quem toda a gente chamava de Miguel Castro, conseguiu singrar num papel em que é maneta e partilha a alcova com a irmã… (dito assim é mais medieval, como qualquer fã de Game of Thrones pode comprovar).
Sem ainda ter as portas de Hollywood escancaradas, (convenhamos que escolher os Deuses do Egipto não foi a melhor das opções), optou por manter o ritmo e marcar presença, se bem que precisa de alguma versatilidade…Ora, se em Small Crimes, filme da Netflix, é um polícia desgraçado que termina uma pena por tentativa de homicídio e tenta retomar a vida…em Shot Caller, é um homem de negócios enclausurado por homicídio involuntário, que sai da prisão gangster feito, com a alcunha Money, vítima da institucionalização e da brutalidade dos gangs que ali operam, bem como da moda inaudita de pilosidade facial que por ali abona. Senão vejamos:
E não é só ele. Neste novo filme de Ric Roman Waugh há uma certa tendência em preencher o novo catálogo da Gillete…
Fora esta matéria de gozo, Shot Caller é uma agradável surpresa.
O filme é nos apresentado em duas linhas temporais distintas, onde acompanhamos a aprendizagem de Money ao código de sobrevivência; a subjugação aos “shot callers”, verdadeiros king pins que de dentro das prisões…mandam nas ruas; e a sua entrada na fraternidade cega que prevalece dentro do gang…. onde terá de agir sem se questionar, esfaqueando para não ser esfaqueado. Vejam o filme para comprovar que a brincadeira de lá de cima com a palavra Gillete não foi de barato 😉
A outra narrativa temporal é a condicional atribuída a Money e o seu primeiro trabalho no exterior às ordens do gang, bem como a relação com a família que entretanto abandonara…para poder proteger.
No trabalho encomendado, um negócio de tráfico de armas, várias forças confluem para uma noite fatídica, onde Money irá agir para se tornar o novo Shot Caller, iludindo a polícia e o gang.
O realizador Ric Roman Waugh passou dois anos em pesquisa, como agente de condicional na Califórnia, visitando prisões e observando este mundo ultra-violento…acabando por direccionar o seu filme contra o sistema que suga a mente do prisioneiro e encaminha-o pelo caminho errado. Com esta experiência, envolve o filme com a textura das prisões do Novo México, ouvindo os prisioneiros e explorando os seus hábitos, injectando o guião com detalhes de autenticidade comportamental do “animal humano” quando enclausurado.
Com a melancolia da banda sonora de Antonio Pinto, (que nos soa algures pelas sombras das bandas sonoras de Nick Cave e Warren Ellis), mais do que um exercício filosófico, estabelece um ensaio sobre um animal cambaleante, ferido mas raivoso, que tem um actor de ponta que ostenta o seu nome: Nikolaj Coster-Waldau.
ESTREIA: 12/11/17